quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Diálogo entre Luís de Camões e um elemento da Natureza

Luís de Camões, um verdadeiro provador do fracasso amoroso, veterano nestas situações. Tal tristeza empurra-o a ir dar uma volta, pela sua herdade, que continha um lago natural muito bonito e vegetativo. A passo vagaroso, lá vai ele com as mãos atrás das costas e cara fixa no chão.

Quando chega ao lago, inevitavelmente pega numa pedra e manda para o mais aquém possível. Depois de uns longos 10 minutos a arremessar calhaus, decide sentar-se no pequeno areal que cobria toda a costa da lagoa. Descalça os seus sapatos e coloca-os numa zona a que a água não chegasse. Tamanha era a sua solidão, decide interagir com a lagoa:

- Sabes quem sou eu? E porque estou aqui?

Incrivelmente uma voz surge de um infinito próximo e responde a Luís:

- Sei tudo isso.

- Não vale a pena auto humilhar-me, e dizer o que se passa. Sinto-me só e impotente face a este mundo bárbaro. Cheio de peste e tuberculose. Onde parece que a vitória é apenas uma ilusão de pouca dura. Enfim, aqui estou eu.

-Não sejas ilusório, o que te atormenta não é a peste. Estás assim porque estás desgostoso, fracassas-te mais uma vez no amor, correcto?

- Mais uma vez certa. Sinto que este furacão de emoções, irá me prejudicar. Condicionar-me-á, a ter uma vida normal sem sobressaltos, continuando a escrever até ao resto dos meus dias.

-Sabes porque que não tens sucesso, no amor?

-Sei. O meu amor estragou tudo. Tudo o que fazia era em sua função, tudo o que escrevia, tudo o que pensava, tudo aquilo em que acreditava. O amor passou a ser consumido em exesso. Deixou de ser algo natural e magico, passou a ser uma fonte desesperada de inspiração para os meus poemas.

- Luís tu sabes tão bem como eu que as medidas que traças-te nesta relação, seriam todas elas platónicas, e inalcansáveis. Mesmo assim foste avante. Usas-te o teu talento para te remediar as asneiras que fazias. Usas-te a sua ignorância, para isso.

- A sua beleza indiscutível fazia com que uma voz dentro de mim entoasse, um poema em sua honra. Usei a sua insipiência, para me fazer sobressair face aos poemas rascas dos seus pretendentes. Acabei por enlouquecer com tal concorrência. Sou humano não sou como tu.

- Luís, eu sou fruto da tua imaginação. Estás impotente face ao mundo, e pela primeira vez consulta-te algo que esteve contigo desde que nasces-te. Estas numa fase em que que solidão eterna te espera se não deres o passo em frente.

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